20.12.07

MesmoMesmo

Eu quero sangue para minhas veias entupidas, pessoas! E quero carnes para os meus dentes moles! Como é que eu posso explicar? Eu sou escroto e eu exijo respeito! Eu sou escroto e eu exijo respeito!

Eu só tenho de especial o monte de molho do McDonald's que eu comi! E essa barriga, não duvide, são cerca de 1.500 sapos mal digeridos... E daí? Você vai falar merda e eu vou continuar aqui, rindo para você, trabalhando para você, inventando soluções inovadoras para você, e, enquanto continuar a merda toda, enquanto nada de pior acontecer com o clima, com essa inexplicável passividade de toda a conjuntura interna e internacional, a nossa toada vai ser essa bossa nova, sofisticada, velha, alegrinha, fake, fajuta, futilizada, e as nossas palavras vão continuar essa coisa morta e a nossa porra não vai vingar nunca, em ventre nenhum, e o nosso eco vai continuar passeando inutilmente, voltando e fugindo de novo, se encolhendo, minguando, e a gente vai estar aqui, no mesmo lugar, contando as mesmas histórias, deschavando o mesmo back de pontas e bolando de novo... quase igual, quase igual...

E eu hei de continuar gastando a minha paciência com as mesmas coisas erradas. E continuarei não merecendo a complacência que eu mesmo estiver tendo comigo. E hei de continuar não valendo a pena nem para uma conversa, isso de tão rachado, de tão vencido, de tão acabrunhado, cabisbaixo, macambuzio, e vou acordar ainda umas 15 mil noites, como esta, e o meu desabafo vai ainda permanecer pelo meio, igualzinho aconteceu hoje, igualzinho está rolando agora... Porque eu me levantei e não aconteceu nada, eu me levantei e tudo que aconteceu foi que eu me lavantei. Fui escrever e quem venceu foi a merda. E é a merda quem tá cantando vitória! E eu lamentaria se tivesse o que lamentar. Eu, que nunca tive prisão de ventre. Eu, que nunca saí da terra do nunca. Eu que nem sei se algum dia estive por aqui.

12.12.07

Torcedor

Um pássaro num céu branco. Um estilingue no chão. Um moleque olhando para o alto. Um campinho de várzea vazio. Uma pipa mandando. Uma janela com flores. Um rato correndo de um lado para outro da rua asfaltada. Um portão e um interfone. Uma coroa de rainha sobre uma cama branca. Um girassol murcho e entortado. Uma pata de coelho. Uma mão de carteiro balançando um envelope. Um raio numa noite quente. Chuva.

1.12.07

Aborto

Acabo de cometer um aborto. Matei Eva. Os que dela souberam têm noção de que ela foi mais um sonho do que um projeto.

Quanto tempo perdi com ela? Quinhentas horas? Mil? Quantos sonhos absurdos ela me deu? O último, no segundo do assassinato, digo, do aborto, foi algo como uma obrigação. Sim, eu estava obrigado a realizá-la, pois outro o fará e, é claro, o mundo seria melhor se fosse meu esse poder.

Talvez até fosse. Mas foda-se.

Descobri há quatro anos que os caminhos não existem. Que as decisões políticas são uma farsa. E que o que existe é força ou não para cumprir uma decisão.

Hoje aconteceu. Não foi o "Ziggy Stardust and the spiders from mars", que eu parei de assistir para cometer o aborto. Não. Mas foi um salto. Uma sensação como aquela de cair do trapézio. Aquela que balança a gente sempre que está à beira da janela.

Foi um dos maiores saltos, meus caros, me parabenizem. Contarei a cada um o que significa, pois agora terei um pouco mais de tempo.

Amo a todos, e ei de amá-los ainda mais.

Beijos.