28.9.07

Esconjuração do ato de escrever

Considerando que tenho escrito pouquíssimo, essa distância me liberta para falar mal do ato de escrever. Pois é, lá vai o traidor. kkkk.

O fato é que escrever é uma merda. Sério(rs)! Alíás, os dons, em geral, são uma desgraça, porque obrigam a gente a persegui-los e a gente fica escravo dessas coisas todas, tendo que pesquisar um monte, se esforçar pra caralho, abrir mão de horas de amizades e farras, deixar de ler coisas maravilhosas para escrever qualquer titica meia-boca. Sério, gente, isso é coisa de doido, e só explicações malucas podem justificar tanta sandice.

Exemplo: Se escrever é gastar um tempo raríssimo, o melhor poema sobre isso é aquele que não foi escrito. Pois, na forma, e no conteúdo, traz tudo o que a gente queria dizer, não é mesmo?, ou seja: nada. kkkk. Isso não exemplificou bulhufas.

Outro exemplo: Se escrever é uma coisa dolorosa e a gente se expõe e expõe os amigos e quando tenta encontrar o sublime só esbarra no ridículo, paciência! Atentemos, deixa ver... à ridicularidade da vida, por exemplo. É o momento! É lama!!! De barro preto, terra roxa, da boa, da lata, que tem adubo a dar com pau, mas é lama. Só mão de calo, muito calo, vai lá constrói um império de alfaces e couves-flores. Mas isso é raro. E as gentes de dons, em geral, não têm paciência pra essas coisas. Desencana.

Escrever é menos útil do que pitar um cigarro. A fumacinha, efetivamente, danifica o pulmão e fica impregnada na roupa. Da gente e dos outros, aliás. Aquelas espirais que se formam são uma coisa linda, mais bonitas do que nuvens e, pensando agora, acho que sei porque isso acontece. É que as porras das nuvens têm sempre fundo azul, oras! Que saco neh? Nunca mudam o windows do planeta. E a gente que falava mal do Bill Gates. Mas vamo lá. A porra da fumaça vai que vai, e o ser humano que fuma - à exceção de raças como jornalistas e delegados, que fumam trabalhando - minuciosamente, deliciosamente, religiosamente, finalmente!, consagra aquela horinha sagrada ao desgraçado vício (uns minutinhos roubados à furia de ganhar o pão com o suor do pescoço) e isso é uma das coisas mais lindas. Deus salve essa merda! Essa coisinha é sagrada mesmo, ainda que eu não fume essa caretice. E se eu fumasse ia ser a mesma coisa, mas que se dane. Não sei ao certo se ainda estou escrevendo sobre escrever.

Escrever, como vocês sabem, é pedir, sem esperança, uma resposta sobre o amanhã. Essa coisa de não ter esperança é muito clara no Drummond. Mas me lembrem de publicar uma letra do Márcio que fode de vez com a esperança que, convenhamos, pode ser das piores desgraças a afligirem escritores e não escritores, criando eternos países do amanhã, eternos posts do amanhã e, por que não, experts e perfects almires e libertários do amanhã. Ah, esses valores maravilhosos que não valem um cocô de pombo na careca da gente! Hahahahá! Bora brincar de adivinhação que a gente ganha mais, sabe.

Escrever é coisa de fofoqueiro, que sai por aó bisbilhotando a vida alheia e a própria. E não tem coisa pior, vou falando. Fofoqueiros da degraça, conselheiros frustrados da merda de estarmos vivos, poligRotas de linguas inventadas, sonhadas, caçadores de pássaros translúcidos e ilhas tormentosas, uni-vos!!! Vocês vão se foder se fizerem isso, podem estar certos. Mas se foder é o melhor que há, dizia a amiga Karin. Se eu estiver por aqui até apareço. Mas não serei eu a marcar o local. Hahahahahá!!!!! Bjs, bjs, bjs, bjs!!!!! Tô maluko hoje! kkkk !!!!

22.9.07

Primeira carta ao Almir do amanhã

Te escrevo, meu caro, para dizer, primeiro, que perdi muito do carinho que eu tinha por ti. Sério. Mais uma das faces do meu egoísmo, sabe? O que tu tiveres, ou seja lá o que venhas a fazer ou ser, nada será meu. Posso, no máximo, ter hoje o sonho daquilo que tiveres um dia conquistado. E, desculpa, mas isso já não me satisfaz nem um pouquinho.

Te escrevo com a pancinha cheia de um café gostoso e um pão e meio com uma manteiga light que eu e a Cris descobrimos. Sério, deliciosa, recomendo. Puxa pela memória e talvez relembres o nome e até o gosto.

Adoro isto: um cafezinho e já vejo piscar o monitor, com minhas pupilas dilatadas! Pois é. E nem sei se tens aí, nesse corpo velhaco, este meu poder de viajar facinho, até mesmo respirando (rs)! Talvez tenhas perdido esses dons pelo caminho do tempo. Eu, todavia, quase não penso assim. Tenho achado cada vez mais que nada perdemos e nada ganhamos. Que sou aquele que se me apresenta, independente da ilusão daquilo que eu tenha sido, embora eu tenha um grande carinho pelo menino-eu da minha lembrança. E talvez tu possas até me ajudar a lidar com isso... Aliás, tu bem que poderias me contar, num sonho, a diferença entre o café da manhã e o café do amanhã. (Sobre os monitores, que agora já migram para plasma e LCD, decerto você nem terá um desses onde ver piscar nos seus olhos as tais pupilas dilatadas. Uma pena.)

Te escrevo para puxar conversa, porque não sei quase nada de ti. Eu, como pré-história dessa tua vida, não sei em que se tornaram – com o passar dos anos – os bichos e floras que povoam essa minha existência. Assim sendo, talvez seja mais útil eu te contar o que por aqui se passava, antes do futuro dilúvio. Ou das chuvinhas de asteróides miúdos. Ou de tardes e tardes de garoa; ou noites e noites com ou sem sereno.

No geral, talvez reflexo do tempo, eu vou me virando bem num jogo quase todo de incertezas. Funciona mais ou menos assim: as coisas valem em nichos específicos, sob prismas definidos, para as pessoas que compartilham a vontade de que certas conclusões sejam conquistadas. E variando levemente a freqüência da luz, improvisando um bafo quente sobre os cristais, embebedando um pouco o discurso racional com encantos da língua ou piadas sobre sexo, a gente progride, indiscutivelmente, rumo a alguma coisa que não sabemos o que é. Ou mais de uma coisa, claro. Os que amam o social usam tudo isso para socializar. Os que amam o liberalismo, para liberalizar. E os que amam o libertismo para libertismizar. Os que amam o amor, bem, alguns deles usam essa coisa como um cachimbo, para fumar maconha, isso desde a década de 50, ou desde que o mundo começou a se ouvir e se ver pelos meios de telecomunicação. Mas não sei se todos estão nessa toada porque tenho ficado muito fechado em casa e só agora estou pondo as contas em dia e poderei encurtar um pouco mais o teu futuro, bebendo qualquer coisa enquanto escuto, componho e canto canções pelos botecos da vida.

Vou parar abruptamente, desculpa. Dei uma aloprada agora; talvez saibas como é. Mas isso é um começo e a gente continua. Não vou me despedir longamente porque nunca nos encontramos.

Até outro dia!

18.9.07

Cine Caiubi - com Grupo Tarumã

Achei no orkut do Márcio! MUUUUUITO legal! Sinal de que já demorô meu retorno ao caiubas. A música tá no youtube. É só clicar.

Grupo Tarumã canta Cine Caiubi

12.9.07

Desjejum

Hoje de manhã, comi comida de jornalista
Coxinha apimentada, café preto, às sete da matina, depois de ter dormido às duas escrevendo contra os inimigos do ensino superior público, gratuito e de qualidade
Ah, mas essa toada termina

Logo, caminharei à padaria
Passarei pela porta de vidro
E transpassarei mesas e prateleiras de leite e ovos

À frente do balcão, direi ao atônito padeiro:
- Fernandez, esquece a massa que não cresce, abandone a transmutação de pão dormido em farinha de rosca - e guarde as receitas novas para uma outra hora!

Tenho fome e esses minutos estão se tornando eternos
Fernandez, hoje eu vim comer seu sonho

5.9.07

Mandante

Contrate-se um matador
Procura-se um justiceiro
Mas tem de ser impiedoso; não tenho tempo para falhas
Serei cruel e desumano se o assassino não cumprir nosso acordo

Estou girando nos calcanhares e a vítima vai pelo mundo à solta
Não quero mais planos, não ligo se eu for preso ou denunciado
Quero o sangue e se possível a cabeça
Mais do que tudo, quero a certeza dessa peste morta

Quero um psicopata infalível; não me importa o que já tenha feito
Não ligo que seja a sua primeira morte e que, de agora em diante, ele comece a assassinar crianças
Não dou a mínima se ele estrangular velhos, se ele estuprou mulheres grávidas
Não ligo se ele matar meu pai, se chantagear minha mãe, se ele chutar a cara da minha irmã e passar a noite esporrando no túmulo da minha avó
Eu tenho ódio e não tenho mais limites, eu quero o seu poder de morte!

Não me interessa que seja insano, não me preocupo com seu método
Se ele explodir uma cidade, desde que a vítima esteja dentro, tudo bem
Não precisa nem me avisar para que eu saia de qualquer prédio em chamas
Não tô nem aí para mim, eu quero a extinção desse inimigo!

A quem se incumbir da tarefa, eu vou logo avisando
Esse traidor do diabo possui um trilhão de artimanhas
Essa peste que eu persigo é a invenção mais peçonhenta, a maldade mais recriada, a arquitetura da persistência do nojo... Foram anos de involução humana para que ele nascesse e aprimorasse seu conjunto de artifícios
Não acredite numa palavra do que ele disser, porque é até possível que essa aberração seja sincera
Talvez você veja inocência naquela face; eu já vi!
Talvez você se lembre dos melhores sonhos ou das coisas mais lindas que espera com a simples percepção do seu hálito
Aqueles olhos brilham de repente, fuja deles, afie a sua lâmina, afirme o seu gatilho
Ele pode parecer seu amigo, parecer sua falha, sua última esperança

Ainda que ofereça mais que eu, que ofereça mais grana, que ofereça outros motivos
Que diga que o persigo como um traidor e que ele sempre quis me salvar
Não escute, assassino, você é um homem ou um merda? E se não tiver dignidade de matá-lo pela promessa que me fizer, mate-o pelo gosto de sentir essa morte
Não lhe dê escapatória, não lhe dê tempo
Mate-o para ver o sangue que vai correr daquele pescoço magro
Mate para calar aquela boca que fala as coisas que te atrapalham
Faça com que o mal que te possui sirva finalmente para alguma coisa, seu desgraçado!
Mate porque, se você falhar, eu vou acabar com a tua raça!

Parece um herói, esse inimigo, você vai reconhecê-lo logo
Onde nada estiver brilhando, onde tudo correr medianamente bem, é grande a chance de que lá se esconda
Porque essa peste é tão mesquinha que esse é um dos seus métodos
O nojento vai vivendo na moita, exercitando uma mediocridade imensurável, fazendo graça, trançando as pernas
Deve estar tomando um café agora, confessando qualquer porcaria a um amigo novo ou velho, inventando um jeito torto de dizer aos colegas que gosta deles

Não tenha dó, assassino, não pense em ter amor por ele
Encontre e aniquile, pelo amor de Deus, pelo amor da morte, por qualquer motivo
Tenho tentado matá-lo, porém, não consigo
Não será glória nenhuma esse trabalho, porque essa excrescência nem devia estar no mundo

4.9.07

Uma oração para Sara

Enquanto você dorme e acorda
E balança e dorme
Na barriga de sua mãe
Eu rezo por você, Sara

E desejo que os deuses existam e gostem de iluminar caminhos
E estejam atentos à chance de um mundo mais belo, que há de nascer contigo
E desejo que os anjos existam e lhe confiem segredos
Que você há de esquecer para aprender outros – talvez os nossos,
E há decerto de deixá-los para inventar os seus

Enquanto os congressos discutem, enquanto se atracam luas e sóis,
Refazedora de mundos, Denise se divide em Denise e Sara
E é um milagre, ela sabe. Entre nós, daqui para frente
Tudo será outra coisa, como sempre seria,
E revelar essa mágica é também seu segundo milagre

O melhor de nós há de renascer contigo
Eu rezo e me alegro neste desejo,
Para que sejamos dignos da promessa que é a sua chegada
Para que sejamos mais amáveis e menos tolos
Para que abandonemos tudo o que nos pacifica mesquinhos
Para que sejamos para você até mais do que sonhamos para nós mesmos e ainda não conseguimos ser

Ouço seu riso, você já brinca e canta
Que encantos inventará Denise para que essa graça permaneça?
E rezo, atento, pelo mundo que lhe daremos,
Para que livros não sejam queimados, para que você os conheça,
Para que a poesia não se rasgue nem seus sentidos sejam perdidos,
Para que as máquinas não roubem o mundo e nossa própria maldade não vença

Rezo para que tenha a alegria de sua mãe
Alegria-bênção, que nem precisa de motivo
Felicidade humana, curtição das coisas da terra
Felicidade dourada: sol nos cabelos da fanzoca que te balança

E há de ser forte ou meigo, ou meigo e forte o seu grito
Há de ser seu, muito seu, mais que tudo
Há de ser ouvido, considerado, atendido
Consolado, se acaso for triste; comemorado, quando carregar vitória
Agora eu rio, pensando em sua mãe, primeiro ser a tratar desses gritos!
E fico alegre, e agradeço a Deus pelas risadas todas.

Pois assim há de ser cada berreiro seu,
Menina Sara,
Desde a primeira vez que chegar a este mundo.

2.9.07

Licor de amora

Tenho faltado a encontros e amigos
Preparo uma canção que nunca termino
Tão ausente que não seria surpresa se um dia eu mesmo batesse à minha porta

Prometo que isso acaba, que esse tempo passa
E passa mesmo
Mas vem outro inevitável
Brilhante e trágico
Heróico e solitário
E ninguém saberá se ganhei, se perdi, sequer se estive na luta

Acumulo coisas, quase todas inúteis. E essas são as de que mais gosto.
Uma utilidade qualquer e já ameaço me achar vencido
Desisto da brincadeira, levo a bola para casa
Não respondo à provocação, foda-se!, eu não estava nem aí mesmo
Talvez nem seja marcha essa canção que eu escrevo

Agora gargalho, paspalho, enciumado
Todos estão na roda e eu com o lápis na mão
- Ódio profundo, inveja mortal -
As moças revoltam-se em seus vestidos rodados
Eu sem palavra e dinheiro repasso a canção infinita

Encontrei este herói sórdido que só vence quando fracassa
Que nasceu com índole má e se sabota com amor estranho
Sua melhor palavra é o silêncio, seu grande feito é a ausência
Sua paciência diz “bom dia!”, enquanto naufraga um navio

Encontrei este conhecimento, esta alma sem corpo
Este ímã que atrai a palavra que agita
Torvelinho, remoinho, olho furado, buraco negro
Consciência direcionada de sempre saber-se ausente

Terra circulante embriagada e seca
Me aproximo, abraço e não causo pavor algum
Trago um recado esperado
Escrito no esquecimento
Numa língua que não conheço
Sobre um absurdo indescritível

Ninguém mais escuta e todos estão atentos
O vácuo se projeta e nem suga e nem apaga as lâmpadas
Noite perfeita para uma nova desgraça

Comemorem, amigos, pois a tristeza já foi sitiada!
Outra batalha, uma noite a menos
É possível sim, alguém viu dentro dos olhos dela!
Agora temos o vinho e todo esse chopp nos copos
Agora temos o canto e os anjos que sobem ao palco
A tristeza se amarfanha ainda mais, ruboresce, se constrange
Tão companheira e a gente faz isso com ela!
Hahahá, gargalhamos, os vencedores!
Hahahá, meus amores, minhas amoras!
O escarlate saboroso se espalha entre as mesas todas!
É fruta doce e tropical, mas seu aroma é o do sangue do inimigo.
Um brinde a essa delícia, um brinde!
Nossa senhora, como essa coisa é gostosa!