Abres teus olhos e vês o abismo
Que fazer?
Fechar os olhos?
Dar mais um passo?
Aguardar um telefonema?
Xixi no abismo?
Tremendo, ensaias uma panorâmica.
Como fostes parar aí?
Agora é tarde.
Mas, tarde para quê mesmo?
(De todos lados, o fosso, que, agudo, mergulha-te goela dentro)
Ah, pensas, era mesmo o destino.
Até agora, só isto quiseste.
A esperança, a meta que perseguias
era o topo
E o topo é o gêmeo do abismo.
Quantos pequeninos abaixo!
Legiões, formigas, pontos, manchas
Aquele deve ser o cais do porto
Jamais visitado
Que sempre te revisita.
Seria mesmo o destino
vontade tola de coisas inexplicáveis?
Viria, depois, a explicação
deitar-se na cama velha da vontade?
(Ah, uma cama velha neste topo!)
Não podes. E sequer pensar devias.
O motivo é que o topo é uno
e nele não cabem pensamentos.
Ratos, pizzas, recados
são substâncias de baixo,
e, quando pensas,
passeias por densidades menos nobres,
e feres,
teu privilegiado ponto de vista.
Uhmm! Ia-me esquecendo!
Precisas furar um olho.
O duplo não cabe no topo!...
Terás sim, a sombra, mas esta,
refletida no abismo, perder-se-á,
como o eco das palavras que não conheces.
De repente, manjas (nirvana)!
E como não faz diferença,
escolhes, enfim, o abismo.
( não por coragem, mas na vista de um velho poema )
no sulfite, tapete voador,
flutuas no tempo igual foto desbotada
e, tal como o desespero, chega então a alegria
e poderias ser um segundo sol se metáforas funcionassem e este momento fosse mesmo o mundo
rápido
teus pés enroscam-se nos garranchos
— vento! —
Com toda a velocidade, algumas vírgulas caem,
Bjxiiiiiiiiiiiiiiiiiiii...
Despencam significados,
xonados,
elétricos,
e tuas palavras vazias,
sons e ritmo,
tiburcecalabandeando,
vão
quando, enfim, até o papel te escapa.
Eis que a gravidade, quem diria, sem mais nome, existe
e faz com que o papel deslize
e volte
e vá e volte
e deslize e volte
(e continuas no meio)
E cada passada é um corte
então percebes
braço, verrugas, dedos,
um saco roxo amassado,
e teus ouvidos separados
também separam-se os mundos
teu nariz ganhou o Atlântico
teu dedão no Himalaia
terras que não conheces, não podes dizer quais são,
a cada nova investida
o mundo todo se parte
e em toda parte,
do abismo ao topo
teu ser-não-ser se atazana
Em verdade, expressamos,
sobre teu corpo deixado:
— Foi crack!
— Não, êxtase!
( ou taquicardia... )
Teremos, decerto, acertado.
Não saberemos em quê.
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