Na minha terra morta, haveria uma horta
se ela não fosse o que é: terra morta
Cresceriam girassóis e morangos, ervas para o chá das cinco,
e enquanto eu corresse mundo, entre visões maravilhosas,
levaria esse jardim comigo
Em verdade carrego, assim,
para os lugares aonde não vou,
esse estranho não-jardim
Tem não-sementes e não-pássaros que nunca ali passarão
Por isso mesmo, eis que surgem, pois sempre ali estão
E nesse não-estar, afoitos, dele nunca partirão
Eu tenho cadeira e varanda, de onde fito a terra seca
(por vezes barrenta, não me importa)
onde a lagarta-borboleta não pôde nascer ou ser morta
Em meu não-jardim, crisântemos não brigam com ervas daninhas
e a samambaia rescende sob o sol do meio dia
As pétalas das margaridas, dourados brincos ciganos,
são caminhas para abelhas e seus lambuzados planos
E a roda das estações, ao revolver meus amores,
não mata folhas ou frutos, não desbota vivas cores
Ao olhar meu reino amado,
─ súbito ─ arranco um galho: meu não-jardim fica triste
E transtornado eu te entrego uma rosa que não existe
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